sexta-feira, 1 de julho de 2016

O Mapa de Peri Reis


Piri Ibn Haji Mehmed (1465-1554) foi um almirante otomano nascido na península de Gallipoli, actual território turco. Pouco se sabe acerca desta figura descendente de uma família de marinheiros. Combateu durante anos com as marinhas espanhola, genovesa e veneziana pelo domínio estratégico de territórios e, neste contexto, ascendeu à posição de “Reis” (“almirante”, na sua língua natal). Foi sobrinho de Kemal Reis, almirante turco que participou em embarcações que praticavam corso no Mediterrâneo e na costa atlântica do norte de África. Terá sido vencido numa das batalhas travadas com a marinha portuguesa no Golfo Pérsico e, por isso, mandado decapitar por ordem do Sultão.

É sabido que a sua paixão foi a cartografia. Homem erudito, o estatuto que alcançou na marinha otomana permitiu-lhe desenvolver este gosto, acedendo a fontes de informação privilegiadas na Biblioteca Imperial de Constantinopla. Em 1521, publicou “Kitab-i Barhieh”, ou “Livro da Marinha”, onde descreveu a costa mediterrânica e incluiu um mapa cartografado por si em 1513. O conhecimento que detinha das línguas espanhola, grega, italiana e portuguesa tê-lo-á ajudado a fazer este mapa “polémico”, preparado na cidade de Galibolu.

O mistério por detrás do mapa

A origem do mapa torna-se um mistério devido à precisão dos seus detalhes (embora não sejam exactos), principalmente das Américas e da Antártida, e às possíveis fontes em que Piri Reis se baseou. Mas foi só em 1953 que foram realizados estudos que comprovaram o valor histórico existente nas cartas escritas pelo almirante turco. Ficou confirmado que, embora antigo, o mapa, que seguia o modelo cartográfico portulano (por guiar os navegadores de porto a porto) era bastante preciso. A latitude e a longitude dos diversos pontos que compõem o mapa são considerados correctos, mesmo sabendo que o cálculo da longitude viria a ser uma realidade só após o século XVIII, com a criação de um relógio marinho de precisão.

A obra de Piri Reis descreve as principais cidades do Mediterrâneo e apresenta 215 mapas regionais. Inclui ilustrações dos reis de Portugal, Guiné e Marrocos. Em África, surge um elefante e uma avestruz. Na América Latina, lamas e pumas e, nas zonas litorais, barcos.
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Mapa da Europa e do Mar Mediterrâneo

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Mapa de Atenas


Na opinião do cartógrafo, “a elaboração de uma carta demanda conhecimentos profundos e indiscutível qualificação.” Piri Reis terá estudado todas as cartas de que teria conhecimento, “algumas delas muito antigas e secretas” e “de que era o único conhecedor na Europa”, segundo o próprio. Estas poderão ser a resposta ao mistério. Ter-lhe-ia chegado também às mãos, por via de um membro da sua equipa capturado por Kemal Reis, um mapa desenhado por Cristovão Colombo. Se o teve, teria sido este o único contacto com Colombo?

Assim, permanece o mistério. Quais as fontes e os instrumentos utilizados para que se atingisse uma precisão precoce e invulgar à época?

As teorias da contradição

Há quem afirme que o mapa tinha erros nas latitudes e longitudes. Essa ideia é, de algum modo, justificada a partir do estudioso Charles Hapgood, professor e investigador americano, que terá sustentado a precisão do mapa, embora com possíveis erros na descrição das zonas Ártica e Antártica, pelo menos. Ainda acerca da precisão geográfica, estudos comprovam a necessidade de o almirante ter possuído instrumentos de medição avançados e uma equipa de análise cartográfica aérea. A comprovação destas hipóteses, provavelmente, derrubaria uma série de preceitos científicos que moldam a nossa visão histórica e actual, em geral. Definitivamente, este é um mapa envolto em mistério e polémica.


Mapa de Granada

Mapa de  Alexandria


A obra de Piri Reis vale igualmente por ser a mais antiga referência à influência de Colombo na feitura de cartas naúticas e por possuir bastantes fontes portuguesas e espanholas - nações para as quais a cartografia era uma importante arma política.

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