Piri Ibn Haji Mehmed (1465-1554) foi um almirante otomano nascido na
península de Gallipoli, actual território turco. Pouco se sabe acerca desta
figura descendente de uma família de marinheiros. Combateu durante anos com as
marinhas espanhola, genovesa e veneziana pelo domínio estratégico de
territórios e, neste contexto, ascendeu à posição de “Reis” (“almirante”, na
sua língua natal). Foi sobrinho de Kemal Reis, almirante turco que participou
em embarcações que praticavam corso no Mediterrâneo e na costa atlântica do
norte de África. Terá sido vencido numa das batalhas travadas com a marinha
portuguesa no Golfo Pérsico e, por isso, mandado decapitar por ordem do Sultão.
É sabido que a sua
paixão foi a cartografia. Homem erudito, o estatuto que alcançou na marinha
otomana permitiu-lhe desenvolver este gosto, acedendo a fontes de informação
privilegiadas na Biblioteca Imperial de Constantinopla. Em 1521, publicou
“Kitab-i Barhieh”, ou “Livro da Marinha”, onde descreveu a costa mediterrânica
e incluiu um mapa cartografado por si em 1513. O conhecimento que detinha das
línguas espanhola, grega, italiana e portuguesa tê-lo-á ajudado a fazer este
mapa “polémico”, preparado na cidade de Galibolu.
O mistério por detrás
do mapa
A origem do mapa
torna-se um mistério devido à precisão dos seus detalhes (embora não sejam
exactos), principalmente das Américas e da Antártida, e às possíveis fontes em
que Piri Reis se baseou. Mas foi só em 1953 que foram realizados estudos que
comprovaram o valor histórico existente nas cartas escritas pelo almirante
turco. Ficou confirmado que, embora antigo, o mapa, que seguia o modelo
cartográfico portulano (por guiar os navegadores de porto a porto) era bastante
preciso. A latitude e a longitude dos diversos pontos que compõem o mapa são
considerados correctos, mesmo sabendo que o cálculo da longitude viria a ser
uma realidade só após o século XVIII, com a criação de um relógio marinho de
precisão.
A obra de Piri Reis
descreve as principais cidades do Mediterrâneo e apresenta 215 mapas regionais.
Inclui ilustrações dos reis de Portugal, Guiné e Marrocos. Em África, surge um
elefante e uma avestruz. Na América Latina, lamas e pumas e, nas zonas
litorais, barcos.
Mapa da Europa e do Mar Mediterrâneo
Mapa de Atenas
Na opinião do cartógrafo, “a elaboração de uma carta demanda
conhecimentos profundos e indiscutível qualificação.” Piri Reis terá estudado
todas as cartas de que teria conhecimento, “algumas delas muito antigas e
secretas” e “de que era o único conhecedor na Europa”, segundo o próprio. Estas
poderão ser a resposta ao mistério. Ter-lhe-ia chegado também às mãos, por via
de um membro da sua equipa capturado por Kemal Reis, um mapa desenhado por
Cristovão Colombo. Se o teve, teria sido este o único contacto com Colombo?
Assim, permanece o
mistério. Quais as fontes e os instrumentos utilizados para que se atingisse
uma precisão precoce e invulgar à época?
As teorias da
contradição
Há quem afirme que o
mapa tinha erros nas latitudes e longitudes. Essa ideia é, de algum modo,
justificada a partir do estudioso Charles Hapgood, professor e investigador
americano, que terá sustentado a precisão do mapa, embora com possíveis erros
na descrição das zonas Ártica e Antártica, pelo menos. Ainda acerca da precisão
geográfica, estudos comprovam a necessidade de o almirante ter possuído
instrumentos de medição avançados e uma equipa de análise cartográfica aérea. A
comprovação destas hipóteses, provavelmente, derrubaria uma série de preceitos
científicos que moldam a nossa visão histórica e actual, em geral.
Definitivamente, este é um mapa envolto em mistério e polémica.
Mapa de Granada
Mapa de Alexandria
A obra de Piri Reis vale igualmente por ser a mais antiga referência à
influência de Colombo na feitura de cartas naúticas e por possuir bastantes
fontes portuguesas e espanholas - nações para as quais a cartografia era uma
importante arma política.
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