Além das riquezas naturais a Lagoa dos Barros (Rio Grande do
sul, Brasil) é rica em histórias e lendas contadas por moradores da região.
Encantada, mal assombrada, são alguns dos adjetivos usados para definir a Lagoa
dos Barros. Os moradores da região contam inúmeros "causos" a
respeito da lagoa, como a história de que nas profundezas da Lagoa vivia um
monstro; ou de ninfas deslizando pela lagoa montadas em corcéis brancos
carregados pelos ventos; ou ainda de que em períodos de seca é possível ver ao
longe o ...
topo de prédios mais altos e, em algumas ocasiões, ouvir o
sino da Igreja tocando de uma possível cidade submersa construída no centro da
lagoa, embora não se tenha qualquer notícia da existência de uma cidade do
gênero nas proximidades, quanto mais em meio às águas. Sabe-se que a lagoa se
formou a cerca de 5 mil anos, logo a suposta cidade teria que ter mais
de 5 mil anos de idade.
Ligação subterrânea com o mar: é o que se fala para explicar
o aspecto turvo da água e as ondas formadas em dias de temporal além do tamanho
da lagoa, que tem cem quilômetros quadrados e profundidade de até sete metros.
Dizem que quando a maré baixa, o nível da lagoa acompanha. Pesquisadores já
encontraram vestígios marinhos no local, ligados a um passado remoto em que a
área da lagoa fazia parte de uma grande baía.
A Lagoa dos Barros também tem histórias sobre um barco todo
iluminado, que surge do nada nas noites mais escuras, e, da estranha aparição
de dois misteriosos padres em suas margens. Essas lendas são bastante
conhecidas pelos habitantes da região e visitantes mais assíduos. Independente
de verdade ou mero causo estas histórias aumentam a curiosidade das pessoas e
dão um toque de magia a Lagoa que é um dos lugares mais interessantes do
Brasil.
A mulher de Branco da Lagoa dos Barros
Mas, entre todas as lendas envolvendo a Lagoa dos Barros com
certeza a mais difundida e também macabra nasceu de um fato verídico. O famoso
assassinato que movimentou Porto Alegre em 1940, quando o noivo da jovem Maria
Luiza matou-a e jogou seu corpo na lagoa amarrado a uma pedra. Moradores dizem
que já encontraram uma mulher de branco à noite perto da lagoa. Quando foram em
sua direção, um vento fortíssimo começou a sacudir as árvores. De repente, a
figura sumiu sem deixar vestígio. Outra história sobre a mulher de branco
surgiu em 1958, quando dois caminhoneiros a viram andando na beira da estrada
que margeava a Lagoa dos Barros, à noite. Estranhando encontrar uma mulher sozinha
àquela hora eles pararam para investigar, mas a figura desapareceu.
As histórias sobre visões da mulher de branco que perambula
pela lagoa a procura do seu noivo-assassino continuam se repetindo até hoje, às
vezes assustando muitas pessoas. O local onde o noivo atirou o corpo de Maria
Luiza nas águas da lagoa dos Barros fica próximo a usina Açúcar Gaúcho S/A
(Agasa), cuja velha chaminé desativada pode ser vista da rodovia.
A Agasa funcionou até 1989. Mas o funcionário Milton Nunes,
hoje com 64 anos, trabalhou no prédio vazio até 2003, quando se aposentou. Foi
nesse período que conheceu O TERROR. Ele era vigia do patrimônio abandonado. Um
momento de sua ronda noturna era apavorante. Tratava-se de uma passagem entre
os prédios. Quando ele percorria essa parte do trajeto durante sua ronda, os
cabelos ficavam em pé.
— Era ela que estava ali — recorda.
O redemoinho Mortal
No lado contrário à rodovia freeway, um jovem casal dá aulas
de kitesurf. Rafael Freitas e Clarisse Mallmann, ambos de 34 anos e sócios da
empresa Rajada, não deixam de navegar pelas águas da lagoa, porém, nunca vão ao
"meião", por causa do tal do redemoinho mortal. A força das histórias
é tamanha que até bombeiros e barqueiros experientes demonstram receio com a
lagoa. O sargento dos bombeiros Rogério Marques, 49 anos, lembra da correnteza,
das ondas que vêm dos quatro lados ao mesmo tempo e de outras coisas
aterrorizantes para evitar o local.
— Bem em frente à chaminé da Agasa, tem um ponto em que a
bússola fica doida — alega.
Raul Espíndola Braz, 53 anos, foi bombeiro de 1980 a 1990.
Hoje, conserta barcos e faz resgates na lagoa. Contatado certa vez para
integrar uma pesquisa sobre prospecção de carvão na área, disse não.
O local onde o sargento Rogério afirma que a bússola fica
doida é próximo de onde ocorreu o crime da noiva. Clarisse afirma que enquanto
as pessoas estiverem nas proximidades, não devem tratar a história da noiva com
desdém. Ao contrário, devem prestar a ela oferendas e sugere a clientes que
levem pulseiras, brincos e batons para a noiva.
Curiosamente barcos maiores, seja de pescadores ou mesmo
escunas, não são avistados nas águas da lagoa, apenas esportistas e pequenas
embarcações se aventuram nas amaldiçoadas águas.
O dia mais terrível da vida do Beto do Daer
Dezoito de setembro de 1990, 14h20min. Beto do Daer, ou
Betão, ou melhor, Paulo Roberto de Oliveira Rosa, 55 anos, funcionário do órgão
rodoviário, saiu para pescar na Lagoa dos Barros com Luiz Carlos Gonçalves. Era
um belo dia, mas tudo mudaria rápido. Enquanto pescavam, começou a bater forte
o vento chamado pelos gaúchos de Nordestão (vento vindo da direção nordeste).
Logo perceberam o perigo. Decidiram se mandar. Puxaram a rede. Incrivelmente,
ela subiu lotada com 52 peixes.
A água entrava no barco, e os dois usavam um latão para
tirá-la. Aos poucos, a dupla conseguia avançar em direção à beira. Então,
começou a soprar o Minuano (vento polar muito gelado que sopra da direção
sudoeste). Com uma força colossal, o vento empurrou o barco para o meio da
lagoa, e o desespero tomou conta. Em terra firme, família e vizinhança já
sabiam do drama. Avisados, os bombeiros chegaram ao local. Com uma lancha,
tentaram entrar na água. Desistiram.
No meio da lagoa, a luta continuava. Beto e Gonçalves
lembraram de uma plataforma de exploração de carvão. Se conseguissem
alcançá-la, salvariam-se. Após horas, chegaram. Exaustos, jogaram-se na
plataforma. À noite, o vento diminuiu. Mas, baixou, um nevoeiro muito denso.
Horas passaram e eles decidiram procurar a margem.
Após longo tempo remando, a dupla ficou cercada pelo
nevoeiro. Não era possível localizar as margens. Seguiram remando, quase a
esmo, os braços doloridos pelo esforço. Eram 21h25min quando atingiram a terra.
A volta para casa se deu na carona do Comodoro do empresário Aníbal Ferrari,
que os acolheu, encharcados, na freeway. Betão fez, então, uma nova promessa.
Nunca mais navegou na lagoa. Moradores da região afirmam que o episódio teve
origem sobrenatural, e passou a ser mais um causo a fazer parte da mitologia
popular da lagoa.
FONTE: oarquivo
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