Doutor Osmar de Oliveira 20/06/1943 - 11/07/2014
Miriam Portela entrevistou o jornalista Osmar de Oliveira para o jornal Folha Espírita. Ele foi testemunha de um dos mais lindos casos de desdobramento ou de experiência fora do corpo de Chico Xavier. Eis a íntegra da matéria:
“O Boeing da Transbrasil estava lotado. O voo Recife/São Paulo, logo depois do almoço, pela Transbrasil, havia surgido como a única alternativa. Naquele dia — 2 de maio de 1985 — o jornalista e médico, Osmar Pereira Soares de Oliveira, devia voltar, de qualquer jeito, para São Paulo, mesmo sem transmitir a partida de futebol em Recife. Um motivo muito forte o obrigava a partir. Seu irmão, Edson Pereira Soares de Oliveira, de 39 anos, casado, pai de três filhos, comerciante, tinha morrido. Foi brutalmente assassinado, por volta de 23 horas, quando chegava do seu escritório, no bairro de Pompeia, na capital paulista.
Osmar de Oliveira lembra com detalhes daquele dia: Eu estava a serviço em Recife, onde deveria transmitir uma partida de futebol. O dia 1° de maio, Dia do Trabalho, foi feriado. Dia 2, pela manhã, minha mulher Elizabeth telefona avisando-me que meu irmão tinha sido assassinado na noite anterior e eu deveria voltar imediatamente para o velório.
Com algum esforço, consegui lugar no voo Recife/Salvador/São Paulo da Transbrasil. Sentei-me no último banco do avião. Num momento como aquele eu não gostaria de ser reconhecido, nem de conversar com ninguém. Sentei-me na cadeira que dá para o corredor e abaixei a cabeça, cobrindo a testa com a mão. Durante todo o trajeto eu tentava entender o que tinha ocorrido. Pensava no que diria a meus pais. Que explicações razoáveis eu poderia lhes dar? Eu estava angustiado, mas não conseguia chorar.
No trecho entre Salvador e São Paulo (o avião continuava lotado) alguém fica de pé ao lado da minha poltrona e se dirige ao passageiro sentado ao meu lado, que ocupava a poltrona do meio:
— Deixa eu sentar aí!
Eu estranhei. O avião estava cheio, porque aquele homem estava querendo sentar-se logo ao meu lado? A princípio pensei que fosse alguém que tivesse me reconhecido. Continuei de cabeça baixa, com o rosto coberto. Continuava sem a mínima vontade de conversar, com quem quer que fosse. Afastei a minha perna para que o passageiro ao meu lado saísse e novamente tive que me mexer para que o outro se acomodasse. Olhei-o rapidamente, estranhando a sua atitude.
Senti que haviam tocado no meu braço e olhei para o novo companheiro de viagem. Neste momento ele me disse: — Agora você me reconheceu. Sim, eu concordei, era ele mesmo, Chico Xavier. Usava um terno verde-escuro e estava sem gravata. No rosto abatido, usava um tradicional óculos escuros. Então, ele me perguntou: — Como era ele? Não sei porquê, deduzia que ele se referia ao meu irmão e passei a descrevê-lo fisicamente. Contei-lhe como era o meu irmão morto. Chico Xavier abaixou a mesinha do avião, pegou um pedaço de papel, talvez fosse um guardanapo, e começou a rabiscar. Ele colocou a mão sobre os olhos e rabiscava rapidamente, formas confusas. Depois de alguns segundos, segurou com força o meu braço e sussurrou:
— Ele teve que ir mesmo. Deus o levou. Os próximos meses de sua vida seriam horríveis. Deus o poupou desse sofrimento futuro. Não se preocupe, seu irmão está bem.
E continuou:
— Depois de passados dois, não, alguns meses, me procure que eu vou lhe dizer como ele está. Você sabe onde eu moro? Eu tenho muita coisa para falar sobre ele.
Ele se levantou muito lentamente, sem se despedir. Deixei-o passar e ele se dirigiu para a frente do avião. A última imagem que eu guardo dele caminhando pelo corredor em direção à frente do avião. Não o vi mais. Voltei a baixar a cabeça e cobrir o rosto com a mão.
Quando o avião aterrissou, Osmar de Oliveira tentou rever o passageiro que, durante uns três ou quatro minutos, esteve sentado ao seu lado, e que ele reconheceu ser Chico Xavier. Osmar conta que foi o primeiro a descer do avião, pela porta dos fundos. E começou a olhar todos os passageiros que desciam do avião, dando mais atenção àqueles que desembarcavam pela porta dianteira. Afinal, Chico Xavier tinha ido para a frente do avião. Encheu-se o primeiro ônibus e o segundo também. Osmar permanecia na pista, aguardando. Quando desceram todos os que estavam a bordo, Osmar ainda raciocinou. Ele deve ter algum esquema especial. Provavelmente irá desembarcar com a ajuda de um comissário e seguirá de Kombi da companhia. Para sua surpresa, isso também não aconteceu.
Chico Xavier não desembarcou do avião.
O jornalista Osmar de Oliveira confessa que se sentiu confortado após a conversa com Chico Xavier. A consciência de que encontraria sua família arrasada com o assassinato do irmão e da sua imensa responsabilidade, já não o assustava. Ele se sentia forte e com coragem para enfrentar a realidade, apesar da dor que sentia, Osmar desistiu de procurar por Chico. Sua família o aguardava ansiosa, no velório do irmão.”
“Chico Xavier – Meus pedaços do espelho” de Marlene Nobre
FONTE: kardecriopreto
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