A
família de Christian Ashmore consistia em sua mulher, sua mãe, duas filhas
crescidas e um filho de dezesseis anos. Moravam todos em Troy, Nova York, eram
pessoas de bom nível, respeitadas, e tinham muitos amigos, alguns dos quais,
lendo estas linhas, ouvirão falar pela primeira vez da história extraordinária
ocorrida com o rapaz. Os Ashmores se mudaram de Troy para Richmond, Indiana, em
1871 ou 1872, seguindo, um ou dois anos depois, para os arredores de Quincy,
Illinois, onde o Sr. Ashmore comprou uma fazenda e se instalou. A pouca
distância da sede da fazenda havia uma fonte de água limpa e fresca, que a
família usava para suprir suas necessidades durante o ano inteiro.
Na
noite de 9 de novembro de 1878, lá pelas nove horas, o jovem Charles Ashmore
deixou a família reunida em casa e, levando uma pequena jarra, saiu em direção
à fonte. Como demorava a voltar, a família ficou inquieta, e o pai, indo até a
porta por onde o rapaz saíra, chamou por ele sem obter resposta. Acendeu então
uma lanterna e, junto com a filha mais velha, Martha, que insistiu em
acompanhá-lo, saiu à procura. Naquela noite havia caído um pouco de neve, que
cobria o caminho mas deixava evidente a trilha feita pelo rapaz. Cada pegada
era perfeitamente visível. Quando eles já haviam percorrido pouco mais do que a
metade do caminho — cerca de sessenta metros —, o pai, que ia na frente,
estacou e, erguendo a lanterna, ficou espiando a escuridão à sua frente.
"O
que houve, pai?", perguntou a moça.
O
que havia era o seguinte: a trilha do jovem terminava de repente e dali para a
frente a neve fofa estava intocada. As últimas pegadas eram tão visíveis quanto
as anteriores, sendo possível mesmo distinguir a marca da ponta dos dedos. O
Sr. Ashmore olhou para cima, usando o chapéu de anteparo para que a luz da
lanterna não o ofuscasse. As estrelas brilhavam. Ficou assim afastada a
hipótese que chegara a lhe ocorrer, por mais improvável que fosse, de que
houvesse caído neve outra vez, e só dentro de um limite tão bem definido.
Seguindo um caminho maior e rodeando o local onde estavam as últimas pegadas,
de forma a deixá-las intocadas para voltar a examiná-las mais tarde, ele foi
até a fonte, enquanto a moça seguia atrás, sentindo-se fraca e apavorada.
Nenhum dos dois disse uma só palavra sobre o que tinham visto. A fonte estava
coberta de gelo, obviamente endurecido havia muitas horas.
Voltando
para casa, observaram a neve de ambos os lados, ao longo de todo o caminho. Não
havia qualquer marca de pegadas afastando-se da trilha.
A
luz do dia não trouxe qualquer nova evidência. Por toda parte havia neve, não
muito profunda. E sempre macia, sem marcas, intocada.
Quatro
dias depois, a mãe, arrasada, foi até a fonte em busca de água. Ao voltar,
contou que, quando passava pelo local onde tinham sido vistas as últimas
pegadas, ouvira a voz do filho e saíra, desesperada, chamando por ele, andando
a esmo pelo lugar, já que a cada momento tinha a impressão de ouvir a voz vindo
de uma diferente direção. Até que não agüentara mais, vencida pelo cansaço e
pela emoção. Quando lhe perguntaram o que a voz falava, não conseguiu dizer,
embora asseverasse que as palavras eram perfeitamente audíveis. Imediatamente,
toda a família foi até o local, mas ninguém ouviu nada e a conclusão foi a de
que tudo não passara de uma alucinação causada pela ansiedade da mãe e por seus
nervos destroçados. Acontece que nos meses seguintes, com intervalos
irregulares de alguns dias, a voz foi ouvida por todos os membros da família, e
também por outras pessoas. Todos declararam estar absolutamente certos de que
era a voz de Charles Ashmore, e todos concordaram que o som parecia vir de
muito longe, fraco, mas articulado de forma perfeitamente audível. E, contudo,
ninguém foi capaz de precisar de que direção vinha o som ou de repetir as
palavras ditas. Os intervalos de silêncio foram aos poucos tornando-se mais
longos, e a voz ficando mais fraca e distante, até que, no verão, parou de ser
ouvida.
Se
alguém conhece o destino de Charles Ashmore, esse alguém provavelmente é sua
mãe. Ela está morta.
FONTE: http://riesemberg.blogspot.com.br/
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